
Ex-prefeito esteve nesta quarta-feira, 21, na sede do Ministério Público Estadual, onde protocolou pedido de investigação. Foto: Divulgação
O ex-prefeito José Crespo denunciou ao Ministério Público uma série de pessoas que trabalharam pela sua cassação com o objetivo de, segundo ele, obter “vantagens políticas e/ou financeiras”. A denúncia foi apresentada nesta quarta, 21, em São Paulo, com pedido para que o procurador-geral do Estado, Mário Luiz Sarrubbo, abra um inquérito para apurar as acusações, com vistas a uma futura ação civil pública.
O PORQUE obteve com exclusividade uma cópia da denúncia (veja abaixo) e, nela, o ex-prefeito acusa cinco pessoas de serem “protagonistas” do que ele chama de “conspiração” que resultou em sua cassação: o vereador Fernando Dini, que presidia a Câmara na época da cassação; sua então vice-prefeita, Jaqueline Coutinho; o então vereador e namorado de Jaqueline na época, Hudson Pessini; Marcelo Carriel, então delegado seccional de polícia; e Kiko Pagliato, proprietário da rádio Ipanema.
Entre os crimes que o ex-prefeito quer ver investigados pelo Ministério Público estão: abuso de poder, abuso de autoridade, ato de improbidade, injúria, difamação, calúnia, dano moral, peculato, concussão e corrupção passiva e ativa.
Ouvidos pela reportagem sobre as acusações de Crespo, o vereador Fernando Dini e o ex-vereador Hudson Pessini negaram qualquer irregularidade e disseram que o processo de cassação foi legítimo (veja respostas abaixo). Jaqueline não quis fazer comentários, enquanto Kiko Pagliato e Marcelo Carriel não foram encontrados.
Mais 14 ‘coadjuvantes’ e 46 ‘testemunhas’
Além dos cinco “protagonistas”, Crespo enumera outras quatorze pessoas que seriam “coadjuvantes” do seu processo de cassação e que também, no seu entendimento, devem ser investigadas, caso o pedido de inquérito seja acatado pelo MP. O grupo dos “coadjuvantes” é composto pelos vereadores que votaram favoravelmente à sua cassação, além de um dos advogados do corpo jurídico da Câmara.
Na denúncia, o ex-prefeito ainda indica um grupo de 46 testemunhas, encabeçado pelo atual prefeito Rodrigo Manga e que inclui políticos, jornalistas e integrantes do primeiro escalão do seu governo.
Ao final, Crespo requer proteção a todas as testemunhas que forem ouvidas e pede que o Ministério Público utilize “o instrumento da ‘delação premiada’ na persecução da Verdade e da Justiça”.
As acusações
Segundo a denúncia de Crespo, a evidência “cabal” de que houve “interesses menores envolvidos” na sua cassação é que quase todos os vereadores que votaram contra ele indicaram nomes para o novo secretariado da vice-prefeita. A denúncia também destaca que o delegado Marcelo Carriel e o empresário da comunicação Kiko Pagliato foram nomeados como secretários municipais no Governo Jaqueline.
De acordo com Crespo, a “conspiração” teria começado em janeiro de 2019, com a posse de Dini na presidência da Câmara, quando se colocou em prática, de acordo com a denúncia, um “plano de desgaste da imagem do prefeito”, um “verdadeiro assassinato de reputação”. Crespo diz que também participaram da “conspiração” agentes da polícia e da imprensa, “visando vantagens políticas e/ou financeiras” com a cassação. Segundo a denúncia, profissionais de marketing e influencers também foram arregimentados para atacá-lo, inclusive com “notícias de infidelidade conjugal e outras barbaridades”.
Na denúncia, o ex-prefeito alega que a acusação que embasou sua cassação, a falta de decoro, não foi “lastreada em quaisquer fatos e provas relevantes”, “bastando vontade política dos vereadores” para tirá-lo do cargo. Ele diz que, após a cassação, conversou com diversas testemunhas que apontaram para uma “conspiração premeditada, por parte dos agentes políticos, para tomada anti-democrática e criminosa do poder executivo local”.
O PORQUE entrou em contato com Crespo esta tarde, mas ele não quis dar entrevista. Apenas divulgou uma mensagem curta pelo WhatsApp, às 14h15, em que informa ter feito a denúncia e recebido a orientação de aguardar o posicionamento do MP e as diligências, antes de divulgar o livro “A conspiração dos sem-mesada”.
O que dizem os acusados
O PORQUE procurou as cinco pessoas acusadas por Crespo de serem protagonistas e levarem vantagens na sua cassação.
O vereador Fernando Dini informou, por meio da assessoria de imprensa, “que toda a sua conduta enquanto presidente da Câmara foi estritamente dentro da lei, o que foi ratificado pelo Poder Judiciário”.
Já o ex-vereador Hudson Pessini afirmou que o processo de cassação foi regular. Por WhatsApp, ele escreveu: “Não fui intimado formalmente de qualquer denúncia do ex-prefeito e certamente ela viria a ser de pronto arquivada. A cassação do mandato foi decidida pelo Poder Legislativo em processo absolutamente regular, em decisão mantida pelo Poder Judiciário. Querer reativar essa discussão e ainda com alegações mirabolantes e infundadas seria tomar o tempo de quem tem mais o que fazer. Como dizia minha avó, mente desocupada é oficina do capeta.”
A ex-prefeita Jaqueline não quis comentar as acusações e disse que vai aguardar os trâmites da denúncia no MP.
Kiko Pagliato não atendeu o telefone e não retornou. O PORQUE não conseguiu entrar em contato com delegado Carriel.
Nos próximos dias, o PORQUE tentará conversar com todos os acusados e mantém seu espaço aberto para que os citados contem suas versões dos fatos.
